imagens

as imagens mostradas aqui são cacos colhidos, na sua grande maioria, de sites da internet. existem cacos colhidos ao acaso, que posso ter deixado de mencionar onde os colhi, tal minha ignorância ou encantamento. desculpem por isso. algumas imagens são minhas, do meu imenso baú de memórias...







sábado, 31 de maio de 2008


Sobre o regador:
O regador é só uma mentira de chuva

que eu tenho de contar às flores,

todas as manhãs.


Rita Apoena

sexta-feira, 30 de maio de 2008




Diálogo:
- E você, por que desvia o olhar?

(Porque eu tenho medo de altura. Tenho medo de cair para dentro de você. Há nos seus olhos castanhos certos desenhos que me lembram montanhas, cordilheiras vistas do alto, em miniatura. Então, eu desvio os meus olhos para amarra-los em qualquer pedra no chão e me salvar do amor. Mas, hoje, não encontraram pedra. Encontraram flor. E eu me agarrei às pétalas o mais que pude, sem sequer perceber que estava plantada num desses abismos, dentro dos seus olhos.)

- Ah. Porque eu sou tímida.
Rita Apoena

sábado, 17 de maio de 2008


Nenhum dos meus caminhos guarda a tua sombra:

só as minhas mãos ficaram maiores com a tua ausência

e andam perdidas,não sabendo escontrar-se uma com a outra.
O ventre de cada dia é um espelho a recordar-te-

- um espelho onde o meu rosto não cabe -e eu avanço, petrificado de silêncio,como se me chamasses, tendo-te cada momento mais distante

nas asas cansadas dos olhos sonolentos.
Se descendo minhas pálpebras prendesse a tua imagem,

jamais amanheceria para mim.Se as minhas mãos decepadas pudessem encontrar-te,

dar-te-ia minha mãos como espada para o teu regresso.
Assim, gasto-me nos longos túneis desta ânsia,

certo de que jamais estarei presente para ti em cada estrela que descobrires na noite.



José Bento

Um dia, quando a ternura for a única regra da manhã,

acordarei entre os teus braços. a tua pele será talvez demasiado bela.

E a luz compreenderá a impossível compreensão do amor.

Um dia, quando a chuva secar na memória, quando o inverno fortão distante,

quando o frio responder devagar com a voz arrastadade um velho,

estarei contigo e cantarão pássaros no parapeito danossa janela.

Sim, cantarão pássaros, haverá flores,

mas nada disso será culpa minha, porque eu acordarei nos teus braços

e não direi nem uma palavra,

nem o príncipio de uma palavra,

para não estragara perfeição da felicidade.


pra você, que deixou minha vida mas não deixou meu pensamento nem por um dia sequer.


A UM AUSENTE


Tenho razão de sentir saudade,tenho razão de te acusar.Houve um pacto implícito que rompeste e sem te despedires foste embora.Detonaste o pacto.Detonaste a vida em geral, a comum aquiescência de viver e explorar os rumos de obcuridade sem prazo sem consulta sem provocação até ao limite das folhas caídas na hora de cair.
Antecipaste a hora.Teu ponteiro enlonqueceu, enlouquecendo nossas horas.Que poderias ter feito de mais grave do que o ato sem continuação, o ato em si,o ato que não ousamos nem sabemos ousar porque depois dele não há nada?
Tenho razão para sentir saudade de ti,de nossa convivência em falas camaradas,simples apertar de mãos, nem isso, voz modulando sílabas conhecidas e banais que eram certeza e segurança.
Sim, tenho saudades. Sim, acuso-te porque fizeste o não previsto nas leis da amizade, do amor e da natureza nem me deixaste sequer o direito de indagar porque o fizeste, porque te foste.


Carlos Drummond de Andrade


imagem - Edvard Munch - Ashes, 1894

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Aos poucos, quem sabe, irei percebendo.
Por enquanto o primeiro prazer tímido que estou tendo é o de constatar que perdi o medo do feio. E essa perda é de uma tal bondade. É uma doçura.

Clarice Lispector

As horas são-me escassas:
dai-me o tempo
ainda que o não mereça
que eu quero
ter outra vez
idades que eu tive
para ser sempre
eu e a vida
nesta dança desencontrada .
Mia Couto

terça-feira, 13 de maio de 2008


(Escre)ver-me
nunca escrevi.
Sou apenas um tradutor de silêncios.
A vida tatuou-me nos olhos janelas em que me transcrevo e apago. Sou um soldado que se apaixona pelo inimigo que vai matar .

Mia Couto

Que lindas são as coisas antigas que se tornaram opacas e amarelecidas porque sobre elas passou a vida, porque crescemos e vivemos tocando-as, fixando na retina as suas formas, fazendo-as participar dos nossos segredos, ... dos sonhos de felicidade. Foram sonhos que nos fizeram cerrar os olhos para abri-los depois em frente à velha cômoda, à mesa antiquada ... que durante várias décadas, nos farão recordar a esperança perdida ou realizada, a alegria e o sofrimento nascidos junto àqueles velhos móveis e objetos...Que tremenda traição cometemos quando substituímos algumas dessas coisas por outra nova e luzidia, que levará ainda vários anos até adquirir a alma que lhe transmitiremos.

Clarice LispectoR