"Somos todos retalhos de uma textura tão disforme e diversa que cada pedaço, cada momento, faz o seu jogo. E existem tantas diferenças entre nós e nós próprios como entre nós e os outros."
Michel de Montaigne
imagens
as imagens mostradas aqui são cacos colhidos, na sua grande maioria, de sites da internet. existem cacos colhidos ao acaso, que posso ter deixado de mencionar onde os colhi, tal minha ignorância ou encantamento. desculpem por isso. algumas imagens são minhas, do meu imenso baú de memórias...
sábado, 31 de outubro de 2009
O melhor da vida foi conhecer-te
e amar-te, alheio ao correr dos anos.
Tudo o mais, que umas vezes me diverte
e outras me traz desenganos,
apenas prova que já perdi
a memória do tempo anterior a ti.
Torquato da Luz
A intenção da água é o mar
a intenção de mim és tu.
Mia Couto
Magoa-me a saudade do sobressalto dos corpos ferindo-se de ternura dói-me a distante lembrança do teu vestido caindo aos nossos pés
Magoa-me a saudade do tempo em que te habitava como o sal ocupa o mar como a luz recolhendo-se nas pupilas desatentas
Seja eu de novo a tua sombra, teu desejo, tua noite sem remédio tua virtude, tua carência eu que longe de ti sou fraco eu que já fui água, seiva vegetal sou agora gota trémula, raiz exposta
Traz de novo, meu amor, a transparência da água dá ocupação à minha ternura vadia mergulha os teus dedos no feitiço do meu peito e espanta na gruta funda de mim os animais que atormentam o meu sono
Obrigado à vida que me tem dado tanto deu-me dois olhos que, quando os abro perfeitamente distingo o preto do branco e no alto céu, o seu fundo estrelado e nas multidões, o homem que eu amo.
Obrigado à vida que me tem dado tanto deu-me o ouvido que, em toda a amplitude, grava, noite e dia, grilos e canários martelos, turbinas, latidos, chuviscos e a voz tão terna do meu bem amado.
Obrigado à vida que me tem dado tanto deu-me o som e o abecedário e, com ele, as palavras com que penso e falo mãe, amigo, irmão e luz iluminando a rota da alma de quem estou amando.
Obrigado à vida que me tem dado tanto deu-me a marcha dos meus pés cansados com eles andei por cidades e charcos, praias e desertos, montanhas e planícies pela tua casa, tua rua e teu pátio.
Obrigado à vida que me tem dado tanto deu-me o coração que todo se agita quando vejo o fruto do cérebro humano, quando vejo o bem tão longe do mal, quando vejo no fundo do teus olhos claros.
Obrigado à vida que me tem dado tanto deu-me o riso e deu-me o pranto assim eu distingo a felicidade da tristeza, os dois materiais de que é feito o meu canto e o canto de todos, que é o meu próprio canto