imagens

as imagens mostradas aqui são cacos colhidos, na sua grande maioria, de sites da internet. existem cacos colhidos ao acaso, que posso ter deixado de mencionar onde os colhi, tal minha ignorância ou encantamento. desculpem por isso. algumas imagens são minhas, do meu imenso baú de memórias...







sexta-feira, 26 de setembro de 2008

PRESENÇA

É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,
teu perfil exato e que, apenas, levemente,
o vento das horas ponha um frêmito em teus cabelos...
É preciso que a tua ausência trescale sutilmente,
no ar, a trevo machucado,as folhas de alecrim desde há muito guardadas não se sabe por quem nalgum móvel antigo...
Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janela
e respirar-te, azul e luminosa, no ar.
É preciso a saudade para eu sentir como sinto - em mim - a presença misteriosa da vida...Mas quando surges
és tão outra e múltipla e imprevista que nunca te pareces com o teu retrato...
E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te.


Mario Quintana

terça-feira, 16 de setembro de 2008


Eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos

Mas eu te possuirei mais que ninguém porque poderei partir.

E todas as lamentações do mar,

do vento, do céu, das aves,

das estrelas

Serão a tua voz presente,

a tua voz ausente, a tua voz serenizada.


Vinicius de Moraes

domingo, 7 de setembro de 2008


.
.
.
.

.
.
.
.
.
.
Pai-Nosso...
Mãe-Nossa...

Pai...Mãe...de olhos mansos, sei que estás invisível em todas as coisas.
Que o teu nome me seja doce, a alegria do meu mundo.
Traze-nos as coisas boas em que tens prazer:
o jardins, as fontes,
as crianças,
o pão e o vinho,
os gestos ternos, as mãos desarmadas,
os corpos abraçados...
Sei que desejas dar-me o meu desejo mais fundo,
desejo cujo nome esqueci... mas tu não esqueces nunca.
Realiza pois o teu desejo para que eu possa rir.
Que o teu desejo se realize em nosso mundo,
da mesma forma como ele pulsa em ti.
Concede-nos contentamento nas alegrias de hoje:
o pão, a água, o sono...
Que nossos olhos sejam tão mansos para com os outros como os teus o são para conosco.
Porque,
se formos ferozes,
não poderemos acolher a tua bondade.
E ajuda-nos
para que não sejamos enganados pelos desejos maus.
E livra-nos
daquele que carrega a morte dentro dos próprios olhos.
Amém.

Rubem Alves

sábado, 6 de setembro de 2008


"Poeta é um ente que lambe as palavras e depois se alucina."

Manoel de Barros

"Que eu seja novamente aquele que ergue do chão o pássaro ferido e, no calor de sua mão, dá-lhe de morrer em paz; aquele que, em sua eterna peregrinação em busca da vida, ajuda o carnponês a consertar a roda do seu carro..."Que me seja dado, em minhas andanças, restituir a cada ser humano o consolo de chorar dias de lágrimas; e depois levá-lo lá onde existe a luz e chorar eu próprio ante a beleza do seu pranto ao sol..."

Vinícius do Moraes

sexta-feira, 5 de setembro de 2008


"...é certo, se isso lhe serve de consolação, que se antes de cada acto nosso nos puséssemos a prever todas as consequencias dele, a pensar nelas a sério, primeiro as imediatas, depois as prováveis, depois as possíveis, depois as imagináveis, não chegaríamos sequer a mover-nos de onde o primeiro pensamento nos tivesse feito parar. Os bons e os maus resultados dos nossos ditos e obras vão-se distribuindo, supõe-se que de uma forma bastante uniforme e equilibrada, por todos os dias do futuro, incluindo aqueles, infindáveis, em que já cá não estaremos para poder comprová-los, para congratular-nos, ou pedir perdão, aliás, há quem diga que isso é que é a imortalidade que tanto se fala..."
pg84 - Ensaio Sobre a Cegueira - Saramago

"...Passou tempo e eu não esperava que, um dia, chegasses.
Mas passou tempo.
Um dia, chegaste.Caminhávamos na rua.
Eu pensava em qualquer coisa que não era a ideia de chegares,
como uma avalanche que arrasta tudo à sua passagem,
como uma multidão a pisar cada pedaço de terra.
E a rua ficou deserta quando nos aproximamos.
Éramos desconhecidos no instante em que olhamos um para o outro.
Passou esse instante e, dentro de nós conhecemo-nos.
Chegaste.
Eu não te esperava.
Contigo trouxeste a ternura, o desejo e, mais tarde, o medo.
Chegaste e eu não conhecia essa ternura, esse desejo.
Em casa, no meu quarto, neste quarto,
revi os teus olhos na memória, a ternura, o desejo.
E, depois, aquilo que eu sabia, o medo.
E passou tempo.
Eu e tu sentimos esse tempo a passar mas, quando nos encontrámos de novo,soubemos que não nos tínhamos separado..."

José Luis Peixoto